O mais crescido fez, para um concurso da escola, um projeto de ciências megalómano que envolvia plantas, terra com minhocas, um garrafão, água e peixes. Sim, dois peixes de água fria. Vivinhos da silva.
O projeto foi para a escola. O projeto voltou da escola na sexta-feira.
Saímos do edifício, entramos no carro e acomodo o garrafão (plantas, minhocas, água e peixes) entre os pés do crescido, sentado mesmo ao meu lado. Faz força com os pés e com as pernas para isso não se virar com as curvas.
Dois minutos depois, travo numa descida e plofffff... Tudo despejado. Litros de água, pedrinhas de aquário e um dos peixes a arfar no tapete do carro. Travão de mão, saio do carro e dou a volta para chegar ao desastre.
O crescido, estático, mãos no ar, Ahhhhhhhhhh!!!!!!!!
Eu, aflita, a combater o nojo de pegar no peixe, o peixe a escorregar-me por entre os dedos e a estatelar-se de novo no chão do carro.
O crescido, estático, mãos no ar, Ahhhhhhhhhh!!!!!!!!
A voltar a pegar-lhe e a, literalmente, atirá-lo para dentro do garrafão. 1 cm de altura de água no garrafão e o outro peixe lá encolhido, num cantinho, a tentar respirar.
O crescido, estático, mãos no ar, Ahhhhhhhhhh!!!!!!!!
Dou voltas ao cérebro. Pensa, Sofia. Pensa, Sofia.
Tens água na mochila?
Para a gritaria. Sim, tenho. Corro para a mala do carro. Não, afinal não tenho. Buáááááááááááá! Larga num pranto. Desistiu.
Berro-lhe, mesmo cá de dentro. Para de chorar, já!! É altura de pensar, não é de chorar! Para!
Dou voltas ao cérebro. Pensa, Sofia. Pensa, Sofia.
Ao fundo reparo numa bomba de gasolina. Deixo o carro a trabalhar e a criança fora do carro, com metade do garrafão com terra e minhocas e plantas na mão.
Corri e salvei os peixes com água da mangueira da bomba de gasolina. Com a ajuda de um senhor.
Entrámos no carro. O miúdo branco, eu com o coração a mil.
Lição de vida para o cachopo: em situação de crise, não se chora, não se desiste. Pensa-se e arranjam-se soluções.
Ontem à noite, coisa única e rara, o crescido queixou-se. Amanhã não quero ir à escola... Por favor... Detesto aquela aula de HGP! Vá lá, mãe, não quero ir...
Conversei, relativizei, confortei. Ouvi e fiz ver que, perante todas as coisas boas que iam acontecer durante o dia, aquela aula de HGP era uma migalha.
Mas... como sou mariquinhas pé-de-salsa, a coisa ficou a moer-me. Seria mesmo pouca vontade de ter aquela aula? Seria outra coisa? Estaria desconfortável com alguma coisa? Com alguém? As cabeças das mães não param nunca...
À hora do almoço, mandei-lhe uma mensagem fofinha. Duas horas depois, outra. Uma hora depois tenho uma resposta.
Miúdos a fazer trabalhos de casa (até custam menos, assim ao ar livre) e depois a correr e a brincar no parque. Cadela a conhecer novos espaços e novos amigos. Um chá e um livro para mim.
Hoje tive uma aula super gira! Fizemos uma experiência com fósforos e uma candle. E depois acendíamos a vela e com o heat, a candle turned into liquid.
E tínhamos de preencher umas frases com palavras numa worksheet.
Entro no blog, volto a ler o post e há em mim um sentimento de ambiguidade.
Por um lado, ele tem razão. Ele tem muitas vezes razão. E embora gostem de ir à escola, desde pequenos que, havendo escolha, preferem não ir. Que contam os dias até ao fim de semana. Até às férias seguintes.
Por outro lado, comparativamente à esmagadora maioria dos miúdos do país, são uns sortudos.
Desde sempre que só vão à escola nos dias em que temos mesmo de trabalhar e que só lá estão as horas estritamente necessárias. O crescido, até fazer 4 anos, só foi à escola de manhã. O mini durante 2 anos só foi de manhã e até aos 5 anos até às 15h30.
Mesmo este ano, o mini sai da escola às 16h. 95% dos miúdos da escola dele ficam até às 17h30, pelo menos.
O crescido sai às 17h. Podia ficar na escola mais 2 ou 3 horas, em atividades e clubes, mas não fica.
Vêm sempre embora, para casa ou para atividades connosco.
Portanto, o crescido não deixa de ter razão. São muitas horas na escola. Por outro lado, fazemos o pino para que lá fiquem o menos tempo possível. E temos sempre conseguido...
Carregado de material, carregado de excitação e de vontade de ser um crescido do básico.
Voltou radiante e... mais leve.
Quem havia de dizer que lhe ia cair um dente, mesmo no primeiro dia de aulas!!
(E para não esquecer: fomos buscá-lo às 16h, a madrinha do mini e os amigos do costume também foram buscar filhos. E há lá coisa melhor que acabar um dia de trabalho e de escola a comer gelados num jardim em conversas e brincadeiras com os amigos que fazem parte da nossa vida?)
Mãe - Filhote, assim que puseres os olhos na professora e ela puser os olhos em ti, vais portar-te tão bem que até te vão nascer umas asas atrás das costas. E nessa altura, vais transformar-te...