A nossa amamentação
Apesar de não saber rigorosamente nada sobre o assunto, quando às 36 semanas fui à minha primeira aula de preparação para o parto (história para outro post) não hesitei em levantar o braço quando a terapeuta perguntou quem estava a pensar amamentar. Aliás, não me passou outra coisa pela cabeça.
Achava que amamentar era uma coisa puramente instintiva, que não haveria dificuldade nenhuma, era só pôr a maminha na boca do bebé e ele começaria a mamar de imediato.
Percebe portanto a minha desilusão quem já teve filhos e já amamentou.
Não foi fácil.
O filhote não sabia agarrar o bico da mama muito bem e adormecia à terceira chupadela, eu ficava muito nervosa (transpirava em bica sempre que o punha a mamar) e as enfermeiras não ajudaram grande coisa. Nunca me doeu o peito enquanto ele mamava, mas tinha dores de barriga horríveis por causa da contracção do útero.
Saí da maternidade com os mamilos num estado lastimável e antes de ir para casa, passei na farmácia onde comprei logo uma pomada e mamilos de silicone (que devo ter usado duas ou três vezes).
Fui procurando respostas para os problemas que iam surgindo. Na internet. Em grupos de apoio, em fóruns, em sites...
Fui descobrindo que os mamilos gretavam sempre porque o filhote não mamava numa posição correcta; que tinha fases em que mamava de hora a hora, nos chamados picos de crescimento; que não precisava de lhe dar água nos dias de calor sufocante, mas que lhe devia dar mama mais vezes; e que quanto mais ele mamasse, mais leite eu produzia, passando assim a dar mais vezes de mamar quando sentia menos leite.
E agora, à medida que vão nascendo mais filhotes de amigos e amigas e que vou acompanhando as suas primeiras semanas com uma perspectiva de quem já viveu dias assim, vou-me lembrando que, apesar de acreditar na amamentação com todos os seus benefícios como alimento e como vínculo, estes 14 meses também tiveram momentos muito difíceis.
Também eu entrei em desespero por causa do cansaço. Também eu me senti exausta por estar sempre a dar de mamar. Também eu chorei muitas vezes por umas horas de sono quando o filhote passava os dias literalmente agarrado à mama. Ainda hoje, com 14 meses, o filhote não dorme a noite toda seguida. Nunca dormiu.
Também criei uma aversão à bomba de tirar leite.
Também já me faltou o leite e também já tive muitas dificuldades em fazê-lo subir. Em Março perdi duas pessoas da família no espaço de uma semana e o meu sistema nervoso ressentiu-se. No final de Junho, entre a festa de aniversário do filhote e a mudança de casa, os níveis de stress foram tão grandes e as oportunidades para dar de mamar durante o dia foram tão poucas durante tantos dias, que a coisa complicou-se.
Não fosse a vontade em manter a amamentação e, principalmente, a ajuda que fui pedindo a quem sabe mais do que eu sobre o assunto e a verdade é que já teria desistido há muito tempo.
E é importante lembrar-me das dificuldades. Porque apesar de parecer ter levado tudo com uma perna às costas, surgiram muitos obstáculos que fui conseguindo superar. E afinal a vida não é feita só de cor-de-rosa.
Mas às vezes os meios justificam plenamente os fins.
Não há momento que aprecie mais, do que aquele em que o meu filho, consolado, está a mamar.