Dois anos depois
Passam hoje dois anos desde que a nossa família mudou. Perdemos um dos pilares, o meu avô.
Chorei pela minha perda, pela perda da minha avô, pela perda do meu pai. Chorei pelo meu avô que não vai ver os meus filhos crescerem, nem vai conhecer os filhos dos meus primos, que ainda hão-de vir. Chorei pelo facto de o mini não ter sequer a oportunidade de se lembrar dele, de, apesar de lhe conhecer o rosto das fotografias, não ter memória do som da sua voz, das suas histórias, das suas gargalhadas. Chorei com o medo de que tudo se transformasse e nada voltasse a ser igual.
E, como não sou boa de lidar com sentimentos mais profundos, demorei a fazer o luto. Lembrei-me do meu avô todos os dias, chorei alguns, mas fiquei praticamente incapaz de falar nele. Ou de entrar em sua casa. Porque isso me fazia sempre esbarrar com a realidade dolorosa de que ele já não estava connosco.
Entretanto, já depois deste último verão, percebi que tinha finalmente de crescer. Mais que não fosse porque, ao nunca falar do meu avô, estava a privar os meus filhos das poucas memórias que têm do seu bisavô. E recomecei então a falar-lhes dele. A mostrar-lhes fotografias. A lembrar-lhes o quão importantes eram para ele. A lidar com as perguntas do porquê e do como e do onde estará agora.
E por isso hoje, que passam dois anos desde que o meu avô nos deixou, falo dele aqui. Porque já consigo. E porque os miúdos agora também têm falado nele.
Um beijinho avô. Meu e deles.