Juntámos os dois os ingredientes, embora ele estivesse muito desconfiado da batedeira eléctrica e não se quisesse sentar ao pé dela. E de um momento para o outro, na sua linguagem, a papa (a massa ainda crua) passou a ser bô(lo).
Depois sentámo-nos os dois e deliciámo-nos com as panquecas ainda quentinhas...
Escolhemo-lo, enchemo-lo, demos-lhe um coração que bate quando lhe damos um abraço, pusemos-lhe outro, vermelho, que aquecemos nas mãos e sobre o qual formulámos um desejo, vestimo-lo e, no fim, ainda o fomos registar e receber o certificado de nascimento.
Chama-se Hamley.
Trouxemo-lo para o filhote, do Hamleys, de Londres, de um espaço que me (nos) deslumbrou e fez ter 6 anos outra vez.
E adivinhem quem vai também receber um na Páscoa, feito com o mesmo amor?
Nas férias costumamos estar sempre com ele, mas estas férias estivemos MESMO sempre com ele.
Pois estivemos. 5 dias sempre em contacto visual e de toque, nunca separados por mais de uns escassos metros. 5 noites a dormirmos todos juntos à distância de um abraço.
Ele está um mimalho, cheio de beijinhos e meiguices, cheio de um narcisismo próprio de quem é o (único) príncipe da casa. Nós estamos mal habituados e os dois dias de trabalho que já tivemos custaram muito a passar sem a sua presença constante.
Andámos tantos meses a treinar o papá e o mamã, para o ouvir logo a chamar páiii e mããii.
Andou quase até fazer um ano sempre pendurado no pano ao nosso colo, para agora entrar na sua escolinha quase sem se despedir e, se for necessário, fazer-nos adeus como que a mandar-nos embora.
E assim que aprendeu que o pai se chama João, passou a chamá-lo pelo nome, exactamente com a mesma entoação que eu.
Oão... Oão...
Está claro que deixei de lhe ensinar o meu nome...
Adorou a manhã da festa de Carmaval na escolinha, no dia 1.
Delirou com o fato de crocodilo e assim que lho vestimos pôs-se logo em inúmeras macadadas... ou crocolicadas, neste caso.
Foi pelo corredor até à sua sala aos pulos, aos sorrisos, em poses para as fotografias que lhe íamos tirando com a máquina e com os telemóveis.
Estava mesmo contente, o meu crocodilo!!
Só não achou muita piada à curiosidade dos amigos sobre a sua cauda e cabeça de crocodilo. Aliás, quando o deixámos na sala, ainda lhe vi uma beiça quase até ao chão perante as palpadelas dos outros a avaliar-lhe a máscara.
Não se chateou nada com o avião e conseguimos entretê-lo muito bem durante o tempo da viagem. Não estranhou o quarto nem a cama (embora o cosleeping tenha sido uma ajuda), nem as sopas de pacote, nem os iogurtes de leite de cabra ou orgânicos (os únicos que íamos conseguindo encontrar), nem a cadeirinha de passeio que comprámos especialmente para estes dias,adivinhando o cansaço de o transportar o dia inteiro no pano ou na cadeira-mochila.
Ele passeou no Portobello Market, na Oxford Street, no Picadilly Circus, no Hamleys (loucura total, nossa e dele) e no Harrods; respirou o ar dos vários Parks e Gardens por onde passeámos; viu o Madame Tussaud (ok, aqui houve salas que vimos a correr dado o ar de pânico dele), o Museu de História Natural, o Museu da Ciência, o Victoria and Albert Memorial; assistiu à troca da guarda da rainha, ouviu o Big Ben a tocar, passeou-se em frente à House of Parliament, perto da Downing Street, na Tower Brigde... e ainda houve oportunidade de passar um dia quase inteiro no London Zoo e de assistir a uma missa totalmente cantada pelo coro da Westminster Abbey.
Provou (devorou) muffins e cupcakes, invejou-nos os cappuccinos da Starbucks, derreteu as senhoras que nos serviam o pequeno-almoço no hotel e encantou muitos dos que fizeram viagens de metro e de autocarro connosco.