Do pedido de ontem
Há três meses que deixou de mamar. Do dia para a noite, sem aviso prévio, embora eu estivesse de sobreaviso para que pudesse acontecer.
E durante semanas, sempre que contava a história a alguém, esse alguém olhava para mim tentando procurar nos meus olhos a tristeza e o desgosto. Pior mesmo, só o olhar de coitadinha, está a tentar enganar-me quando eu dizia que este corte não me tinha custado assim tanto.
E não custou mesmo!
Talvez pelo sentimento de dever cumprido já que o objectivo desde sempre foi amamentá-lo até aos 2 anos, ou então por estar já na expectativa de daqui a uns meses estar a alimentar outra cria.
Mas se até a mim me espanta a leveza com que encarei a situação, depois de tanto esforço e empenho, deixa-me ainda mais perplexa o sentimento que ficou em mim.
É que depois de tanta literatura sobre o vínculo afectivo e sobre a ligação única que se constrói enquanto se amamenta, a verdade é que não senti qualquer tipo de mudança na nossa relação com o fim da maminha.
Ele continua a mimar-me como sempre fez, continua a confiar cegamente em mim, continua a precisar de mim como sempre precisou.
Eu, na maior parte das vezes, esqueço-me que já não o amamento e dou por mim a pensar, por exemplo, se a dor de barriga de que ele se queixa está relacionada com alguma coisa que eu tenha comido.
Não deixa de ser curioso...