À descoberta das palavras
O interesse em usar palavras demorou a chegar.
Ouvia atentamente histórias, cantigas e lengalengas, e gostava de ouvir. Mostrava tão bem este gosto por ouvir, que desde cedo percebi que ainda ia demorar muito tempo a falar.
Até há umas semanas fui a Máááá. O pai João foi o Pááá. E mais nada saía da boca do filhote.
Até há umas semanas.
De repente, começou a imitar os animais todos. TODOS! O leão, o cão, o elefante, o macaco, a vaca, o pato, o cavalo... Todos com gestos e alguns estalinhos de língua.
No Domingo, estiveram cá em casa uns amigos e o filhote estreou-se no miau. Uma proeza, para quem estranha tanto as pessoas e para quem não dizia som nenhum deste género.
Nas últimas duas semana o pulo foi ainda maior.
Eu passei a ser a Mãããiii e o pai João o Páááiiii.
Pede para fazer xixi (o que normalmente significa que acabou de o fazer), chama a Gigi (a Ginja), pede o que quer com um quééé, pergunta o que é com um conjunto de sons parecidos a um "que é isto?". O sim e o não também já fazem parte do vocabulário.
Para não falar, é claro, da surpresa desta semana.
Adoro sair da creche com ele pela mão, em amena converseta, com o filhote a responder, nos sons dele, às minhas perguntas sobre o dia com os amigos, num timing perfeito de pergunta-resposta.
Está a descobrir as palavras. As palavras dele.
E o que eu estou desejosa de descobrir, através delas, o que se passa na cabeça do filhote.