Desta vez são as frases, mais complexas, mais elaboradas, com algumas noções temporais já presentes e o reconto pormenorizado de histórias ouvidas e vividas (e, às vezes, imaginadas).
Ele falou do palhaço que nos entreteve enquanto o espectáculo não começou, reproduziu algumas das palhaçadas, falou do pirata que andava à procura do tesouro, da foca que estava a dormir (focas, leões-marinhos, otárias... enfim, pinípedes é tudo a mesma coisa e o rapaz não faz distinção), do pirata que vomitou água, do beijinho que a foca lhe deu, da música que ouvimos, das palmas que batemos, dos carrosséis e do espectáculo dos papagaios.
Uma panóplia de palavras, expressões, conectores e verbos conjugados nos tempos correctos...
Anda de trotineta, é o rei do parque infantil e, embora ainda não pedale perfeitamente, consegue percorrer distâncias na bicicleta do irmão. É um furacão com uma capacidade motora que espanta qualquer um. Ele salta, trepa, pendura-se, escorrega, ultrapassa, chuta, sobe...
... mas não consegue (nem quer conseguir) encaixar uma peça de um puzzle.
E canetas e afins só lhes toca se vislumbrar a hipótese de se riscar a si próprio.
O crescido responde sem hesitar a contas do tipo 3+3 ou 5+5 e, não sei exactamente como, porque costumamos jogar às contas no carro e enquanto guio não lhe vejo as mãos, mas ontem disse-me Olha, e 5 mais 10? Queres ver? E chegou ao 15 sozinho.
Nem sequer pediu. Só dei conta de que estava na casa-de-banho quando ouvi o banquinho a ser arrastado.
Subiu para o banquinho, levantou o tampo da sanita, baixou as cuecas e as calças, encostou-se muito bem e fez o que tinha a fazer.
Depois sacudiu-se, limpou-se, desceu do banquinho, puxou as cuecas e as calças para cima, baixou o tampo da sanita e subiu-o. Puxou o autoclismo, desceu do tampo da sanita e do banquinho e arrastou-o para debaixo do lavatório.
No fim-de-semana tivemos uma vizinha da idade do filho crescido que veio do parque brincar cá para casa e que acabou por jantar connosco nos dois dias.
E vê-los interagir, alinharem em brincadeiras e a excitação à hora da refeição fez-me pensar que ainda sinto tão próximas as experiências de ser miúda e ir a casa de amigos ou de ter vizinhos a comer em minha casa, que me parece quase impossível ter já filhotes nessas andanças.
Mas foi bom. Principalmente pela diferença de cromossomas.
Eles falam aos gritos, tocam bateria e puxam-na para lhe chamar a atenção para os brinquedos que lhe querem mostrar. Ela tapa os ouvidos, queixa-se dengosa de dores de cabeça e tenta, sem grande sorte, brincar aos pais e às mães.